(Nova York, 7 de maio de 2004) — O governo sudanês é responsável por crimes de “limpeza étnica” e por crimes contra a humanidade na região oeste de Darfur, declarou a Human Rights Watch em um relatório publicado hoje. O Conselho de Segurança da ONU, cuja ordem do dia incluirá hoje o resumo dos fatos ocorridos em Darfur, deverá tomar medidas para inverter essa limpeza étnica e criar condições de repatriamento, com segurança, para um milhão de pessoas já deslocadas.
“Não pode haver dúvida quanto à culpabilidade do governo sudanês nos crimes contra a humanidade em Darfur”, disse Peter Takirambudde, diretor executivo da divisão da África da Human Rights Watch. “É preciso que o Conselho de Segurança da ONU não ignore a brutalidade dos fatos.” O relatório da Human Rights Watch também documenta como as milícias árabes conhecidas por “Janjaweed”, — cujos membros são muçulmanos —, destruíram mesquitas, mataram líderes religiosos muçulmanos e dessacralizaram alcorões pertencentes aos seus inimigos.
A Human Rights Watch passou 25 dias na região oeste de Darfur e arredores, documentando os abusos cometidos em áreas rurais previamente populadas pelas comunidades Masalit e Fur. Desde agosto, vastas faixas da terra onde habitavam, entre as mais férteis da região, foram queimadas e despovoadas. Com raras exceções, o campo foi destituído dos Masalit e dos Fur, seus habitantes originais. As aldeias não foram incendiadas ao acaso, mas sim de modo sistemático e, com freqüência, mais de uma vez. As criações domésticas, os armazéns, os poços e as bombas hidráulicas, as cobertas e os agasalhos, tudo foi saqueado ou destruído.
A ocupação de aldeias calcinadas e bandonadas pelos Janjaweed irreprimidos afugentou os civis para acampamentos e assentamentos fora dos maiores vilarejos. Mas o relatório da Human Rights Watch documenta como mesmo nesses acampamentos os Janjaweed continuam matando, estuprando e pilhando com impunidade. Chegam a roubar os poucos itens de socorro de emergência que se conseguiu fazer chegar até as populações deslocadas. Há meses que o governo do Sudão têm restringido o acesso da mídia internacional à região oeste de Darfur e limitado aquilo que a imprensa nacional relata dos conflitos. Recentemente, chegou a permitir um acesso mínimo à região a agências humanitárias internacionais, mas continua se negando a fornecer a proteção e assistência necessárias aos civis deslocados.
“A emergência humanitária em Darfur é imensa”, afirmou Takirambudde. “Mas uma crise dos direitos humanos se vislumbra por detrás dela. O Conselho de Segurança tem de exigir que o governo sudanês assuma imediatamente a responsabilidade de inverter a limpeza étnica em Darfur.”