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Brasil impede que Meta use pessoas para alimentar sua IA

Primeira salvaguarda de privacidade de dados do gênero no país protege crianças

Duas meninas brincam com câmeras fotográficas no quintal, Osterode, Alemanha, 8 de janeiro, 2016. © 2016 Frank May/picture-alliance/dpa/AP Photo

Ontem, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados do Brasil (ANPD) emitiu uma medida preventiva que impede a Meta de usar dados pessoais de usuários de suas plataformas no Brasil para treinar seus sistemas de inteligência artificial (IA).

A medida fundamenta-se no “risco iminente de dano grave e irreparável ou de difícil reparação aos direitos fundamentais dos titulares afetados”, disse a ANPD em sua decisão.

A notícia vem após uma investigação da Human Rights Watch, publicada em junho, sobre o uso de imagens pessoais de crianças e adolescentes brasileiros para construir poderosas ferramentas de IA sem seu conhecimento ou consentimento. Por sua vez, outras pessoas usam essas ferramentas para criar deepfakes maliciosos, colocando ainda mais crianças e adolescentes em risco de sofrerem abusos.

A decisão da ANPD incluiu dois argumentos que refletem as recomendações da Human Rights Watch. O primeiro é a importância de proteger a privacidade dos dados das crianças e adolescentes, dado o risco de danos e exploração que resulta da raspagem e uso de seus dados por sistemas de IA. O segundo se concentra na limitação da finalidade e que as expectativas de privacidade das pessoas quando compartilham seus dados pessoais on-line — em alguns casos, anos ou décadas antes da criação desses sistemas de IA — deveriam ser respeitadas.

Desde o ano passado, a Meta tem usado os dados pessoais de seus usuários nos EUA para treinar seus modelos de IA. No mês passado, a Meta suspendeu seus planos de fazer o mesmo na Europa e no Reino Unido após objeções de 11 autoridades de proteção de dados. A decisão de ontem proíbe efetivamente essa prática no Brasil e impõe uma multa diária de 50.000 reais em caso de descumprimento no prazo de cinco dias úteis, contado da intimação da decisão.

Após a decisão da ANPD, a Meta disse que “cumpre com as leis de privacidade e regulações no Brasil” e chamou a decisão de “um retrocesso para a inovação e a competitividade no desenvolvimento de IA, e atrasa a chegada de benefícios da IA para as pessoas no Brasil”.

A decisão do governo brasileiro é uma medida poderosa e proativa para proteger a privacidade dos dados das pessoas diante da rápida evolução dos usos e abusos da IA. A ação de ontem ajuda especialmente a proteger crianças e adolescentes da preocupação de que seus dados pessoais, compartilhados com amigos e familiares nas plataformas da Meta, possam ser usados para causar-lhes danos de modos que são impossíveis de prever ou de se proteger.

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