Organizações da sociedade civil instaram o governo brasileiro em uma carta conjunta a se posicionar diante do desaparecimento de Carlos Correa, comunicador social, pesquisador e diretor executivo da organização venezuelana Espacio Público.
O defensor de direitos humanos foi visto pela última vez no centro de Caracas, no dia 7 de janeiro, por volta das 17h (horário local). Segundo testemunhas, Correa teria sido abordado por pessoas encapuzadas, possivelmente agentes estatais. Desde então, não se tem notícias sobre seu paradeiro.
O desaparecimento de Correa acontece em um contexto de agravamento das violações de direitos humanos no país, sobretudo após a contestada eleição presidencial de 28 de julho. De acordo com a Missão Internacional de Verificação de Fatos sobre a Venezuela, das Nações Unidas, os casos de detenções arbitrárias e desaparecimentos forçados aumentaram consideravelmente durante e após o período eleitoral.
Nesse contexto, a Missão investigou cerca de 39 detenções arbitrárias, 29 desaparecimentos no período que antecedeu as eleições e 27 casos após a divulgação dos resultados.
As organizações abaixo assinadas expressam sua profunda preocupação com o desaparecimento de Carlos Correa. Segundo seus familiares, ele necessita de acompanhamento médico regular, o que aumenta a preocupação em relação ao seu estado. As organizações signatárias clamam pela ação da comunidade internacional e, em especial do governo brasileiro, para pressionar por esclarecimentos e responsabilizações sobre o desaparecimento de Carlos Correa e outras violações cometidas contra opositores, manifestantes, comunicadores e defensores de direitos humanos nos últimos meses.
Nesse sentido, no dia 8 de janeiro, um pedido foi enviado ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil para a emissão de um comunicado oficial expressando preocupação com esses eventos.
Houve outras situações recentes de desaparecimentos e detenções arbitrárias de críticos do governo venezuelano, incluindo jornalistas. Segundo o Global Expression Report da ARTIGO 19 internacional, a Venezuela é o único país da América do Sul classificado como em “crise” no exercício da liberdade de expressão. Esses episódios reforçam a urgência de monitoramento internacional e de medidas concretas para conter o aumento da repressão.
Expressamos nossa solidariedade à Espacio Público, aos familiares e colegas de Carlos Correa e exigimos que o governo venezuelano adote ações imediatas para localizá-lo e garantir sua segurança e bem-estar, bem como a implementação de medidas eficazes para proteger manifestantes, comunicadores e defensores de direitos humanos no país.
O desaparecimento de defensores de direitos humanos constitui uma grave violação dos direitos fundamentais e é uma afronta à liberdade de expressão e ao estado de direito.
Assinam a carta:
ARTIGO 19 Brasil e América do Sul
Associação Brazil Office
Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ)
Conectas Direitos Humanos
Human Rights Watch
Transparência Eleitoral Brasil
Repórteres Sem Fronteiras (RSF)